Teotihuacan

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 17 Fevereiro 2015
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Pyramid of the Sun, Teotihuacan (by Alejandro Ocaña, CC BY-SA)
Pirâmide do Sol de Teotihuacan
Alejandro Ocaña (CC BY-SA)

Situada na Bacia do México Central, Teotihuacan foi a maior, mais influente e mais reverenciada cidade da história do Novo Mundo. Ela floresceu na Era Dourada da Mesoamérica, o Período Clássico do primeiro milênio da nossa era. Dominada por duas pirâmides gigantes e uma enorme avenida sagrada, a arquitetura, arte e religião da cidade iriam influenciar todas as culturas mesoamericanas subsequentes.

No seu auge, de 375 a 500, Teotihuacan controlava uma larga área do planalto do México Central e provavelmente cobrava tributo dos territórios conquistados. Por volta do ano 600, os maiores prédios foram destruídos pelo fogo, as obras de arte destruídas e a cidade entrou em declínio. Teotihuacan continua sendo atualmente o mais visitado sítio antigo do México. É incluído pela Unesco como um Patrimônio Histórico Mundial.

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Situação Histórica

Em relação a outras culturas mesoamericanas, Teotihuacan era contemporânea com a cultura Maia Clássica inicial (250-900), mas anterior à civilização tolteca. Localizada no vale do mesmo nome, a formação da cidade iniciou-se entre 150 e 200, beneficiada por abundante abastecimento de água potável, que era canalizada através de irrigação. As maiores estruturas foram completadas antes do século III e a cidade alcançou seu pico no século IV, com uma população estimada em 200.000 habitantes. Teotihuacan é na verdade uma denominação asteca, significando "Lugar dos Deuses"; infelizmente, o nome original ainda precisa ser decifrado dos glifos que subsistiram no local.

A prosperidade da cidade baseava-se parcialmente no controle dos valiosos depósitos de obsidiana na região próxima de Pachuca. A obsidiana era utilizada na manufatura de grandes quantidades de pontas de lanças e dardos, por si mesmos também objetos de comércio. Outros produtos importados e exportados eram algodão, sal, cacau para a fabricação de chocolate, penas exóticas e conchas. A irrigação e as características naturais do solo local e do clima resultaram no cultivo de milho, feijão, abóbora, tomate, amaranto, abacate, figueira-da-barbária e pimenta chili. Estas culturas eram cultivadas através do sistema de chinampa, os campos flutuantes que seriam aperfeiçoados posteriormente pelos astecas. Perus e cachorros eram criados para alimentação e a caça incluía cervos, coelhos e pecari (espécie de porco selvagem), enquanto plantas selvagens, insetos, rãs e peixe suplementavam uma dieta bastante diversa. Além disso, existem evidências de manufaturas têxteis e produção de ferramentas. Teotihuacan possuía seu próprio sistema de escrita, semelhante ao sistema Maia, embora mais rudimentar e cujo uso era geralmente limitado às datas e nomes, pelo menos pelo que se pode inferir dos exemplos existentes.

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Em seu auge, entre 375 e 500, a cidade controlava uma ampla região do planalto central do México.

Em seu auge, entre 375 e 500, a cidade controlava uma ampla região do planalto central do México e provavelmente cobrava tributos dos territórios conquistados através da ameaça de ataques militares. Os temíveis guerreiros de Teotihuacan, conforme retratados em murais, carregavam o atlatl (lançadores de dardos), um escudo retangular, impressionantes cocares enfeitados com penas, proteção para os olhos feitas com conchas e espelhos em suas costas. Foram encontradas evidências de contato, como cerâmica e objetos de luxo produzidos na cidade, em túmulos da elite em todo o México e até mesmo bem ao sul, nos povoados maias contemporâneos de Tikal e Copán.

Misteriosamente, por volta de 600, as maiores construções de Teotihuacan foram deliberadamente incendiadas e obras de arte e esculturas religiosas acabaram destruídas, no que parece ter sido uma completa mudança da elite governante. Os atacantes podem ter sido provenientes de Xochicalco, então em ascensão, ou uma insurreição provocada pela escassez de recursos, talvez exacerbada pelo extensivo desflorestamento (madeira era desesperadamente necessária para queimar grandes quantidades de cal destinada ao trabalho de reboco e estuque), erosão do solo e seca. Seja qual for a razão, após este evento dramático, a cidade permaneceu habitada pelos dois séculos seguintes, mas a dominação regional tornou-se somente uma lembrança.

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A Religião de Teotihuacan

A mais importante deidade de Teotihuacan parece ter sido, de forma incomum na Mesoamérica, uma mulher. A Deusa Aranha era uma deidade da criação e está representada em murais e esculturas, em geral vestindo uma máscara com presas, similar à boca de uma aranha. Outros deuses, que iriam se tornar familiares em civilizações mesoamericanas subsequentes, incluíam a Deusa da Água, Chalchiuhtlicue, representada de forma impressionante numa estátua de pedra de três metros de altura, e o deus da chuva e da guerra, Tlaloc. Claramente havia uma preocupação com a água, fonte da vida, em meio a um clima tão árido. Outras deidades frequentemente representadas na arte e arquitetura desta civilização incluem a serpente emplumada, o deus conhecido entre os astecas como Quetzalcoatl; Xipe Totec, que simbolizava a renovação agrícola (especialmente o milho); e o deus da criação conhecido como o Deus do Fogo Velho. A posição dos templos e pirâmides em alinhamento com o sol no solstício de junho e as Plêiades sugerem que determinadas datas do calendário eram importantes nos rituais e a presença de ofertas e vítimas sacrificiais ilustram a crença na necessidade de agradar aos vários deuses, especialmente aqueles associados com o clima e a fertilidade.

Projeto Arquitetônico e Destaques

A cidade, que cobria mais de 20 quilômetros quadrados, tem um projeto preciso, em forma de grade, orientado a 15,5 graus a leste do norte verdadeiro. É dominada pela larga Avenida dos Mortos (ou Miccaotli, conforme denominação dos astecas), com 40 metros de largura e 3,2 quilômetros de extensão. A avenida começa nos campos agrícolas e passa pelo Grande Recinto ou mercado, Cidadela, Pirâmide do Sol e muitos outros templos menores e distritos cerimoniais, terminando na Pirâmide da Lua e apontando na direção da montanha sagrada Cerro Gordo. Estudos arqueológicos descobriram que a avenida original era muito mais longa do que é visível hoje e é atravessada por outra avenida, o que assim criava uma cidade de quatro quarteirões. O sítio é dominado pelas duas grandes pirâmides do Sol e da Lua e o Templo de Quetzacoatl, mas a maioria das construções era mais modesta, formando pequenos grupos de edificações (mais de 2.000) que se organizavam em torno de um pátio, com o todo cercado por um muro. A preparação diária de alimentos ocorria nestes recintos, utilizando braseiros de argila. Muitos complexos possuíam um ou mais espaços para sepultamentos, sugerindo que cada um era utilizado por uma família ou grupo de parentes, e alguns cobriam vários milhares de metros quadrados, podendo ser melhor descritos como palácios. Outros complexos eram mais modestos e utilizavam menos materiais sofisticados, o que pode indicar que se tratavam de oficinas de artesãos. Muitos também dispunham de grandes cisternas que proporcionavam um abastecimento de água independente. A cidade tinha zonas étnicas: zapotecas na área ocidental e maias na oriental, por exemplo. A arquitetura do sítio incluía características típicas, como estruturas de um único andar, tetos planos com porções abertas ocasionais e painéis decorativos verticais e retangulares, instalados em planos inclinados nos muros talud-tablero, que eram inseridos nas fachadas inclinadas de todos os tipos de prédios religiosos e que foram copiados por toda a Mesoamérica.

Avenue of the Dead, Teotihuacan
Avenida dos Mortos de Teotihuacan
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

As Pirâmides do Sol e da Lua

A Pirâmide do Sol, com cinco andares, foi na verdade construída sobre um túnel-caverna sagrado e uma fonte natural muito mais antigos. O prédio, construído por volta do ano 100 da nossa era, tinha seis plataformas, media 215 metros de lado e erguia-se a 60 metros de altura, o que o tornou uma das maiores estruturas já construídas na América Pré-Colombiana. Sua aparência atual, a qual incluía anteriormente o reboco feito com cal, cobre uma pirâmide um pouco menor, erguida sobre uma grande quantidade de tijolos de lama e entulhos. O topo continha uma pequena estrutura religiosa, alcançada por uma série de degraus de pedra que que se dividia e se unia na parte mais alta. Dentro da pirâmide há um túnel de 100 metros de extensão, que começa abaixo da escadaria exterior e conduz a uma câmara dividida em quatro alas, infelizmente saqueada na antiguidade, mas que provavelmente abrigava uma câmara funerária ou santuário.

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A Pirâmide da Lua é bastante similar, ainda que um pouco menor do que sua vizinha. Sua aparência atual cobre outras seis pirâmides progressivamente menores. Construída por volta do ano 150, não conta com uma câmara interna, como na Pirâmide do Sol, mas as fundações contêm muitas oferendas, tais como felinos e águias de obsidiana e pedra verde, além de uma única pessoa. Oferendas também foram sepultadas a cada estágio subsequente de construção. Três homens foram enterrados logo abaixo do topo; o acompanhamento de objetos preciosos de jade sugere que eram importantes nobres maias. Há também restos mortais de animais sacrificados, incluindo pumas, cascavéis e aves de rapina.

Temple of the Moon, Teotihuacan
Templo da Lua de Teotihuacan
Alejandro Ocaña (CC BY-SA)

A Cidadela e o Templo de Quetzalcoatl

O complexo residencial real da Cidadela (Ciudadela) é dominado pelo Templo de Quetzalcoatl, uma celebração da guerra. Ele foi construído por volta do ano 200 e, embora coberto apenas parcialmente, é ricamente decorado com esculturas de serpentes emplumadas e do rosto típico de Tlaloc. Estes elementos decorativos eram pintados vividamente em azul, vermelho, amarelo e branco. A pirâmide tem sete níveis e mais de 200 homens e mulheres estrangeiros foram sacrificados para comemorar sua conclusão. Entre estes haviam dois grupos de 18 jovens guerreiros que, com mãos amarradas nas costas, foram sacrificados e sepultados em duas grandes covas nos lados norte e sul do edifício. Em cada esquina da pirâmide outra vítima estava sepultada e no coração da estrutura outras 20 vítimas sacrificiais foram enterradas com uma grande quantidade de objetos preciosos. Estes números são significativos, uma vez que os meses do calendário tinham 20 dias e havia 18 meses no ano mesoamericano. Em acréscimo, no coração do templo existem duas câmaras funerárias esvaziadas, talvez pelos próprios habitantes de Teotihuacan, por volta do ano 400, mas um bastão com a serpente emplumada sugere que se tratava de governantes. Também merece menção o Palácio Quetzalpapalotl. Esta estrutura, uma das últimas construídas no local, tem a forma de de um pátio cercado por colunas. O prédio é ricamente decorado com imagens em relevo de corujas e quetzals (tipo de pássaro), representativos da arte da guerra.

A Arte de Teotihuacan

A arte de Teotihuacan, representada na escultura, cerâmica e murais, é altamente estilizada e minimalista. Máscaras de pedra eram fabricadas usando jade, basalto, pedra verde e andesita, com frequência polidas com esmero e com detalhes, especialmente os olhos, feitos com conchas ou obsidiana. Estas máscaras também eram fabricadas com argila e acredita-se que podem ter adornado algum dia estátuas ou corpos mumificados. Muitas construções de Teotihuacan eram decoradas com murais, a maioria dos quais retratando eventos religiosos, especialmente procissões, mas também há cenas com detalhes da paisagem e arquitetura e principalmente cenas aquáticas, tais como fontes e rios. Outras cenas incluem glifos, sugerindo a existência de um sistema de escrita, ainda que muito menos variado e sofisticado do que o utilizado pelos contemporâneos maias. Pintados com a técnica do verdadeiro afresco, o trabalho recebia depois um polimento final. As cores brilhantes e tons de vermelho eram especialmente populares e empregadas frequentemente nos retratos de deuses, sacrifícios e guerreiros. Nos prédios mais modestos, padrões repetidos eram pintados utilizando-se estênceis para criar um efeito semelhante aos dos papéis de parede modernos.

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Entre os vasilhames típicos da cerâmica de Teotihuacan estão os pratos redondos com três pés retangulares e uma tampa e os vasos bulbosos decorados esparsamente com motivos geométricos. Outros formatos populares incluem intrincados queimadores de incenso e figuras dinâmicas, ambos indicando uso de moldes e decorações estampadas, o que sugere um grau de produção em massa. As melhores cerâmicas, produzidas com argila laranja e decoradas com estuque, tinham alta demanda por toda a Mesoamérica.

Greenstone Mask, Teotihuacan
Máscara de Pedra Verde de Teotihuacan
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

As esculturas eram feitas em todos os tamanhos, mas nunca capturavam aparências individuais. Ao invés disso, o foco estava em formas genéricas e convenções estilizadas, principalmente na representação de deuses, tais como a enorme estátua da Grande Deusa, esculpida em lava basáltica e com altura de 3,2 metros, descoberta próximo da Pirâmide da Lua e datada de antes do ano 300. As representações do deus da chuva, Tlaloc, populares entre as esculturas de Teotihuacan, eram produzidas sem o uso de ferramentas de metal.

O Legado de Teotihuacan

Vários aspectos da religião, arquitetura monumental, planejamento urbano e características da produção artística de Teotihuacan iriam influenciar tanto as civilizações contemporâneas quanto as subsequentes por toda a Mesoamérica, como, por exemplo, os Zapotecas, Maias, Toltecas e Astecas. As representações da serpente emplumada divina e da coruja simbolizando a arte da guerra são apenas dois exemplos da iconografia da cidade que se tornaram ubíquas por toda a região. Teotihuacan lançou uma longa sombra cultural através da história e, 1.000 anos após seu auge, a última grande civilização Pré-Colombiana, os Astecas, reverenciava a cidade como a origem da civilização. Eles acreditavam que ali os deuses haviam criado a era presente, incluindo o quinto e atual Sol. O rei asteca Montezuma (Motecuhzoma II), por exemplo, fez diversas peregrinações ao local durante seu reino em homenagem aos deuses e aos primeiros governantes de Teotihuacan, que seriam "homens sábios, conhecedores do oculto, senhores das tradições", e cujas tumbas seriam as grandes pirâmides, construídas para eles, de acordo com a lenda, por gigantes de um passado distante mas não esquecido.

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2015, Fevereiro 17). Teotihuacan [Teotihuacan]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13612/teotihuacan/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Teotihuacan." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Fevereiro 17, 2015. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-13612/teotihuacan/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Teotihuacan." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 17 Fev 2015. Web. 27 Abr 2024.