Plutarco

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 25 Fevereiro 2016
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Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
Ancient Generals (by Mark Cartwright, CC BY-NC-SA)
Generais da Antiguidade
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

L. Méstrio Plutarco, conhecido simplesmente como Plutarco, foi um escritor e filósofo grego que viveu entre c. 45-50 d.C. e c. 120-125 d.C.. Autor prodigioso e imensamente influente, tornou-se mais famoso por suas obras biográficas, as Vidas Paralelas, que apresentam histórias de alguns dos personagens mais significativos da Antiguidade.

Biografia

Plutarco nasceu numa antiga e aristocrática família tebana, em Queroneia, na Grécia central, em algum momento antes do ano 50 da nossa era. Seu pai chamava-se Autóbulo e seu avô Lâmprias, ambos mencionados em suas obras. Embora Plutarco visitasse Atenas com frequência, tendo estudado filosofia na cidade com Amônio, e também viajado tanto para Alexandria, no Egito, quanto para a Itália, a primeira parte de sua vida foi passada em sua cidade natal, onde participava da vida pública e ocupou vários cargos de magistratura. Casou-se com uma mulher chamada Timoxena, com a qual teve pelo menos cinco filhos. A partir da meia-idade, Plutarco atuou como um sacerdote na cidade sagrada de Delfos, sede do famoso oráculo de Apolo. Credita-se a ele o apoio para reviver o interesse nestes cultos antigos durante os reinados dos imperadores romanos Trajano e Adriano. De fato, Plutarco supervisionou projetos de construção dos dois imperadores em Delfos.

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Plutarco convivia em círculos influentes e entre seus amigos incluem-se os cônsules C. Minício Fundano, L. Méstrio Floro (que lhe concedeu a cidadania romana) e Q. Sósio Senécio. O livro Vidas Paralelas foi dedicado a este último. Evidências adicionais da proximidade de Plutarco com os mais altos escalões da elite romana são a concessão, por Trajano, do raro título honorário de ornamenta consularia e a nomeação para procurador imperial in Acaia por Adriano. O escritor transmitiu sua experiência com a alta política na obra Regras para Políticos, um tratado com conselhos para os jovens aspirantes ao serviço público. Além destas obras mais práticas, Plutarco também era um filósofo. Ele aderiu aos princípios platônicos e ensinava filosofia na sua escola, em Queroneia.

Obras de Plutarco

Plutarco, um escritor prolífico, tornou-se ainda mais produtivo à medida que envelhecia mas, infelizmente, um grande número de suas obras se perdeu. Sabemos disso por uma lista do século IV, conhecida como o Catálogo de Lâmprias. Nele são mencionados 227 obras, que incluem biografias e um eclético conjunto de escritos, denominados coletivamente como Moralia. Estes últimos incluem obras de retórica, filosofia moral, descrições religiosas e discussões de temas como profecia e a vida além-túmulo. Há também uma discussão sobre o Timeu de Platão e críticas às escolas filosóficas estoica e epicurista. A história não foi negligenciada, pois Plutarco escreveu várias obras sobre práticas religiosas antigas dos mundos romano e grego, bem como descrições sobre tópicos variados como educação e música. Podem ser acrescentados muitas discussões aparentemente aleatórias e tratados tais como Conselhos sobre o Casamento e Como alertar um amigo sobre um adulador. O Catálogo de Lâmprias, no entanto, está incompleto, pois alguns dos 128 trabalhos do autor que sobreviveram não constam da lista.

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As biografias de Plutarco o colocam como um dos grandes escritores da Antiguidade e uma fonte fundamental sobre algumas das mais importantes figuras da história.

Entre os manuscritos sobreviventes estão 50 Vidas. Das biografias dos imperadores (Augusto a Vitélio), porém, somente as de Galba e Oto ainda existem. Outras ausências notáveis são as biografias do poeta lírico grego Píndaro e do grande general tebano Epaminondas. Ainda assim, as biografias que subsistiram são material suficiente para colocar Plutarco como um dos grandes escritores da Antiguidade e uma fonte histórica fundamental sobre algumas das mais importantes figuras da história.

O autor adotou um sofisticado estilo metafórico e seu trabalho com frequência tem uma qualidade pessoal e afetuosa, para o que contribui em muito as menções a membros da família e amigos próximos. De fato, Plutarco em pessoa aparece em muitos trabalhos, especialmente os redigidos no formato de diálogos, que contêm discursos extensos e caracterizações pessoais.

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Vidas Paralelas

A abordagem de Plutarco nas biografias foi buscar duas figuras históricas – uma grega, uma romana – e compará-las, o que originou o título geral destas obras reunidas como Vidas Paralelas. As duas expressivas biografias eram então seguidas por uma conclusão mais austera, synkrisis ou comparação. Sobreviveram 23 pares de biografias, 19 com suas synkrisis. Exemplos dos pares são Alexandre, o Grande/Júlio César, Epaminondas/Cipião Africano (atualmente perdidas) e Demóstenes/Cícero. Como a maioria dos autores antigos, Plutarco não se interessava por um relato cronológico detalhado da trajetória do biografado e sim pelo destaque das características positivas e negativas de cada um, retratando-as sob uma perspectiva moral. Como o tradutor Ian Scott-Kilvert coloca de forma eloquente:

Plutarco tem um senso infalível do drama dos homens em grandes situações. Seus olhos abrangem um maior campo de ação humana do que qualquer outro historiador clássico. Ele pesquisa a conduta dos homens na guerra, em conselho, no amor, no uso do dinheiro […] na religião, na família, e ele as julga como um homem de ampla tolerância e madura experiência. (11)

As biografias consistem, então, após um exame inicial dos anos formativos e educação, numa série de interessantes anedotas e incidentes que o autor acreditava ilustrarem o caráter, virtudes e vícios dos biografados. Esta abordagem, é claro, frustrou historiadores posteriores, já que a informação do autor pode estar baseada em fatos, experiência pessoal, boatos ou pura e simples fofoca.

Legado

Não houve realmente um período em que Plutarco não tenha sido lido. Suas obras, especialmente as abordando filosofia e educação, continuaram altamente respeitadas e populares entre estudiosos e os primeiros cristãos, na Antiguidade tardia, e também no período Bizantino e na Renascença. Os relatos de Plutarco sobre figuras históricas foram utilizados como fontes por muitos escritores posteriores, incluindo Shakespeare, Rousseau e Montaigne. Vimos que a abordagem eclética do autor em relação à história reduziu sua estima aos olhos de historiadores modernos, mas isso mudou nos últimos anos e Plutarco é agora reconhecido como uma fonte valiosa, que dá um enfoque único sobre como o mundo antigo era visto por dentro.

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Segue-se uma seleção de extratos das obras de Plutarco.

Sobre Temístocles:

Ele era enormemente admirado pelo exemplo que fez do intérprete que chegou com os enviados do rei persa para exigir terra e água em sinal de submissão. Por suas ordens, o intérprete foi preso e condenado à morte por decreto especial do povo, pela ousadia de empregar a língua grega para transmitir as ordens de um bárbaro. (A Ascensão e Queda de Atenas, 83)

Sobre Péricles:

Sua aparência física era quase perfeita, com a única exceção da cabeça, muito longa e fora de proporção. Por esta razão, quase todos os seus retratos o mostram usando um capacete, pois os artistas aparentemente não queriam constrangê-lo por causa de sua deformidade. (A Ascensão e Queda de Atenas, 167)

Sobre Alcibíades:

O fato era que suas doações voluntárias, os shows públicos que apoiava, liberalidade sem paralelos com o estado, a fama de seus ancestrais, o poder da oratória e beleza e força física, junto com a experiência e perícia na guerra, tudo combinava para fazer com que os atenienses o perdoassem em tudo o mais, e eles constantemente encontravam eufemismos para seus lapsos. (A Ascensão e Queda de Atenas, 259)

Sobre Alexandre, o Grande:

Alexandre foi vê-lo em pessoa [Diógenes] e o encontrou aquecendo-se por inteiro ao sol. Quando viu tantas pessoas aproximando-se, Diógenes ergueu-se um pouco, apoiado pelos cotovelos, e fixou o olhar sobre Alexandre. O rei cumprimentou-o e indagou se poderia fazer algo por ele. "Sim", retrucou o filósofo, "você pode se afastar um pouquinho do meu sol". Conta-se que Alexandre ficou muito impressionando com esta resposta e cheio de admiração pela arrogância e independência de pensamento de um homem que podia desdenhá-lo com tanta condescendência. Por isso, ele afirmou aos seus acompanhantes, que estavam rindo e zombando do filósofo enquanto se afastavam, "Podem dizer o que quiserem, mas, se não fosse Alexandre, eu gostaria de ser Diógenes". (A Era de Alexandre, 266)

Sobre Pirro:

A opinião geral sobre ele era que sua experiência como guerreiro, ousadia e valor pessoal não tinham iguais entre os soberanos de seu tempo; mas o que conquistou pela força das armas ele perdeu entregando-se a esperanças vãs e, através de seu desejo obsessivo de obter o que estava além do seu alcance, constantemente falhou em manter o que conquistava. Por esta razão, Antígono o comparou ao jogador de dados que faz muitos bons lançamentos, mas não consegue aproveitá-los quando acontecem". (A Era de Alexandre, 414-415)

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Ricardo é um jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2016, Fevereiro 25). Plutarco [Plutarch]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-820/plutarco/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Plutarco." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação Fevereiro 25, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-820/plutarco/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Plutarco." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 25 Fev 2016. Web. 26 Abr 2024.