O Calendário Asteca

Artigo

Mark Cartwright
por , traduzido por Yan De Oliveira Carvalho
publicado em 25 Abril 2016
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Disponível noutras línguas: Inglês, bósnio, francês, espanhol

Os astecas do antigo México mediam o tempo com um sofisticado e interligado sistema de calendário triplo que seguia os movimentos dos corpos celestes e fornecia uma lista abrangente de importantes festivais religiosos e datas sagradas. Cada dia no calendário era dada uma combinação única de nome e número.

Além disso, tanto os dias individuais como os períodos dos dias recebiam os seus próprios deuses no calendário, destacando a visão asteca de que o tempo e a vida quotidiana eram inseparáveis das crenças religiosas. A data, a cada 52 anos, em que os calendários coincidiam exatamente era considerada particularmente significativa e auspiciosa.

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Aztec Sun Stone
Pedra do Sol Asteca
Dennis Jarvis (CC BY-SA)

A visão asteca do tempo

No mundo moderno, o tempo é muitas vezes imaginado como uma linha reta que vai de um passado distante a um futuro infinito, mas não era necessariamente assim para os astecas. Como o historiador R.F. Townsend descreve,

O tempo para os astecas estava cheio de energia e movimento, o prenúncio da mudança, e sempre carregado de uma poderosa sensação de acontecimento milagroso. Os mitos cosmogênicos revelam uma preocupação com o processo de criação, destruição e recreação, e o sistema de calendário refletia essas noções sobre o caráter do tempo. (127)

Para os astecas, horários, datas e períodos específicos, como o aniversário de uma pessoa, por exemplo, poderiam ter um efeito auspicioso (ou oposto) sobre a personalidade, o sucesso das colheitas, a prosperidade do reinado de um governante, e assim por diante. O tempo deveria ser mantido, medido e registrado. É significativo que a maioria dos principais monumentos e obras de arte astecas ostentem visivelmente algum tipo de data.

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Tonalpohualli – 'Contagem dos Dias'

Os astecas usavam um calendário sagrado conhecido como tonalpohualli ou "contagem dos dias". Isto remontava à grande antiguidade na Mesoamérica, talvez à civilização olmeca do primeiro milênio a.C. Era formado em ciclos de 260 dias, provavelmente baseado em observações astronômicas. O calendário foi dividido em unidades (às vezes referidas como trecenas) de 20 dias com cada dia tendo seu próprio nome, símbolo, divindade padroeira e augúrio:

  1. cipactli - crocodilo - Tonacatecuhtli - bom
  2. ehecatl - vento - Quetzalcoatl - mal
  3. calli - casa - Tepeyolohtli - bom
  4. cuetzpallin - lagarto - Huehuecoyotl - bom
  5. coatl - cobra - Chalchiutlicue - bom
  6. miquiztli - morte - Tecciztecatl / Meztli - mal
  7. mazatl - veado - Tlaloc - bom
  8. tochtli - coelho - Mayahuel - bom
  9. atl - água - Xiuhtecuhtli - mal
  10. itzcuintli - cão - Mictlantecuhtli - bom
  11. ozomatli - macaco - Xochipilli - neutro
  12. malinalli - grama morta - Patecatl - mal
  13. acatl - cana - Tezcatlipoca / Itztlacoliuhqui - mal
  14. ocelotl - ocelot / jaguar - Tlazolteotl - mal
  15. quauhtli - águia - Xipe Totec - mal
  16. cozcaquauhtli - abutre - Itzpapalotl - bom
  17. ollin - terremoto - Xolotl - neutro
  18. tecpatl - faca de sílex - Tezcatlipoca / Chalchiuhtotolin - bom
  19. quiahuitl - chuva - Tonatiuh / Chantico - mal
  20. xochitl - flor - Xochiquetzal - neutro

O grupo de 20 dias andava simultaneamente com outro grupo de 13 dias numerados (talvez não coincidentemente o céu asteca tinha 13 camadas). Isso significava que cada dia tinha um nome e um número (por exemplo: 4-Coelho), com o último mudando à medida que o calendário girava. Depois de todas as combinações possíveis de nomes e números terem sido alcançadas, 260 dias tinham se passado. O número 260 tem significados múltiplos: é o período de gestação humana aproximado, o período entre o aparecimento de Vênus e a duração do ciclo agrícola mesoamericano.

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Tonalpohualli Mesoamerican Calendar
Calendário Mesoamericano Tonalpohualli
Richard Graeber (CC BY)

Além de nomes e números, cada dia também recebia sua própria divindade – um dos treze senhores do dia (os níveis do céu) e um dos nove senhores da noite (os níveis do submundo). Estes foram retirados do panteão asteca e incluía Tezcatlipoca, Quetzalcoatl, Tlaloc, Xiuhtecuhtli e Mictlantecuhtli. As horas diurnas também tinham seus próprios pássaros patronos, como o beija-flor, coruja, peru e quetzal, e em um dia tinha um patrono borboleta. Além disso, a cada grupo de 13 dias também era atribuído o seu próprio deus. Finalmente, em mais uma camada de significado, os 20 dias foram divididos em quatro grupos com base nos pontos cardeais: acatl (leste), tecpatl (norte), calli (oeste) e tochtli (sul).

CADA DIA DO ANO TINHA SUA PRÓPRIA COMBINAÇÃO DE NOME E NÚMERO E, PORTANTO, NÃO PODIA SER CONFUNDIDO COM QUALQUER OUTRO.

Isso tudo parece bastante complicado em comparação com uma semana moderna de 7 dias de repetição de nomes, mas tinha a vantagem de que cada dia do ano tinha sua própria combinação única de nome e número e, portanto, não poderia ser confundido com qualquer outro. Por esta razão, era possível que as crianças astecas recebessem o nome do dia em que nasceram. Os registros eram mantidos dos dias em um livro feito de papel de casca, chamado um tonalamatl. Havia também uma classe de adivinhadores oficiais que interpretavam quais datas eram as mais auspiciosas para certos eventos, como casamentos e tarefas agrícolas, como plantar colheitas específicas, e quais dias deveriam ser evitados.

Xiuhpohualli – 'Contagem dos anos'

O segundo calendário asteca foi o xiuhpohualli ou "contagem dos anos", que foi baseado em um ciclo solar de 365 dias. Era este calendário que significava quando as cerimônias religiosas particulares e os festivais deveriam ser realizados. Este calendário foi dividido em 18 grupos de 20 dias (cada um com seu próprio festival). Esses 'meses' foram:

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  1. Atlcahualo – parada da água
  2. Tlacaxipeualiztli – esfolação de homens
  3. Tozoztontli – vigília menor
  4. Hueytozoztli – grande vigília
  5. Toxcatl – seca
  6. Etzalqualiztli – comer milho e feijão
  7. Tecuilhuitontli – menor festa dos senhores
  8. Hueytecuilhuitl – grande festa dos senhores
  9. Tlaxochimaco – oferta de flores
  10. Xocotlhuetzi – as quedas de frutas
  11. Ochpaniztli – varrendo
  12. Teotleco – retorno dos deuses
  13. Tepeilhuitl – festa das montanhas
  14. Quecholli – um pássaro
  15. Panquetzaliztli – levantamento das bandeiras quetzal-penas
  16. Atemoztli – queda de água
  17. Tititl – significado desconhecido
  18. Izcalli - crescimento

Alguns estudiosos começam a sequência com Izcalli e assim Atlcahualo torna-se o segundo 'mês' e assim por diante. Houve também um período extra, os nemontemi (literalmente, dias 'sem nome') marcados no final do ano que durava 5 dias. Estes ainda não garantiram uma precisão solar completa (alcançada pelo nosso ano bissexto) e, portanto, o calendário acabou por sair de sincronia com as estações, o que exigiu a mudança de festivais e até mesmo a renomear os dias. O nemontemi foi um período estranho de limbo quando ninguém ousou fazer nada significativo, mas esperou pela renovação do calendário propriamente dito. O ano inteiro teve um nome, uma das quatro possibilidades em sequência: Coelho, junco, Faca de Perneira e Casa. Para distinguir entre anos repetitivos, cada um deles recebia um de 13 possíveis números, por exemplo, 1-Casa foi seguida por 2-Coelho. Assim, quando todos os quatro nomes eram utilizados 13 vezes, um ciclo completo de 52 anos se passava.

Os calendários em uníssono

Os calendários tonalpohualli e xiuhpohualli corriam simultaneamente, como Townsend descreve,

Eles têm sido frequentemente explicados como duas engrenagens rotativas engatadas, nas quais o dia de início da roda maior de 365 dias se alinharia com o dia de início do ciclo menor de 260 dias a cada 52 anos. Esse período de 52 anos constituia um “século” mesoamericano. (127)

A passagem de um ciclo de 52anos (xiuhmolpilli) para outro foi marcado pelo evento religioso mais importante do mundo asteca, a Nova Cerimônia de Fogo, também conhecida, apropriadamente, como a cerimônia da 'Vinculação dos Anos'. Isso foi quando um sacrifício humano era realizado para garantir a renovação do sol. Se os deuses ficassem descontentes, então não haveria um sol novo e o mundo acabaria.

Cada segundo ciclo de 52 anos era ainda mais importante para os astecas, pois era quando o tonalpohualli e o ciclo de 52 anos coincidiram exatamente. Curiosamente, embora os períodos de 52 anos tenham sido ciclos de tempo importantes na história asteca, eles nunca recebiam um nome individual e todas as datas começavam de novo no início de um novo ciclo. Isso, sem dúvida, refletia a mitologia do cosmos asteca, onde o mundo e a humanidade estavam sendo constantemente renovados em ciclos perpétuos de mudança.

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Sobre o tradutor

Yan De Oliveira Carvalho
Yan de Oliveira Carvalho nasceu na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Ele possui um Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Estadual da Pensilvânia. Ele atualmente mora no Rio de Janeiro e trabalha como tradutor Profissional de Inglês, Espanhol e Francês para o Português.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor, pesquisador, historiador e editor em tempo integral. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2016, Abril 25). O Calendário Asteca [The Aztec Calendar]. (Y. D. O. Carvalho, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-896/o-calendario-asteca/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "O Calendário Asteca." Traduzido por Yan De Oliveira Carvalho. World History Encyclopedia. Última modificação Abril 25, 2016. https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-896/o-calendario-asteca/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "O Calendário Asteca." Traduzido por Yan De Oliveira Carvalho. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 25 Abr 2016. Web. 27 Abr 2024.